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Blog criado pelo jovem Picuiense Alex Farias, 20 anos, Bacharelando em Direito pelo Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN), Escritor, Poeta e Cordelista. Tem o objetivo de mostrar ao mundo, através desse meio de comunicação tão amplo, ao qual chamamos de Internet suas criações, bem como de amigos,em poemas, poesias, cordeis, contos, crônicas, paródias e várias outras vertentes da literatura. Amigos,sejam todos muito bem vindos ao "Versando com Alex Farias".

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A PARTIDA

Essa semana foi marcada pela partida do escritor Wellyson Marlon Jr. Que partira em uma aventura da cidade de Picuí (PB) para o Rio de Janeiro (RJ) em busca do fortalecimento de seu sonho. Por esse mesmo motivo o mesmo se afastará durante um tempo de nosso blog, mas dentro em breve estará de volta enfim fiquem com o escrito que o mesmo nos mandou.

A partida 
Aeroporto de São Luís do Maranhão, agosto de 1951. A família Ferreira está apreensiva. Seu Newton, Dona Zizi e os oito filhos, todos se reúnem em torno de José Ribamar Ferreira. Ele partirá para a cidade grande, o Rio de Janeiro, um lugar distante, de que os Ferreira têm apenas uma vaga notícia do que seja através da Rádio Nacional. Criança, José Ribamar Ferreira acreditava que o Rio fosse não uma cidade, mas um agrupamento de conjuntos vocais — aqueles que tocavam no rádio, um caixote sonoro que fica num lugar de destaque na sala da casa. As canções dos Quatro Ases e os Anjos do Inferno davam um clima de boemia — de homens malandros com camisas listradas — às manhãs de São Luís do Maranhão. Mas agora José Ribamar Ferreira, aos 21 anos incompletos, sabe que o Rio de Janeiro é mais do que isso.
 (...) Dois anos antes, em 1949, ele já havia publicado o primeiro livro de poesia, Um pouco acima do chão. (...) Mas ele continua a ter o desejo irrefreável de escrever mais e mais. Num dos últimos versos de Um pouco acima do chão diz:

“O meu sonho mais sonhado,
meu desejo mais profundo,
já vai ser realizado:

— mandei fazer um navio
p ara dar a volta ao mundo!”

Tinha chegado a hora da partida. O som do alto-falante chama para o embarque. Dona Zizi abraça o filho e diz a frase de todas as mães: “Meu filho se cuida, come bem, toma leite e cuidado com o estômago...” Os irmãos Dodô, Adi, Newton, Nelson, Alzirinha, Concita, Norma e Consuelo olham o poeta que parte. Seu Newton, o pai, um modesto comerciante dono de uma quitanda, aproxima-se e diz: “Toma isso... É pra se você precisar...” Do dedo ele tira um anel com várias pedras de brilhantes. É a garantia possível para se o filho viesse sofrer aperto financeiro no futuro.
O jovem poeta — com sua mala e agora o anel do pai no bolso — caminha em direção à escada do avião do Lloyd Aéreo Brasileiro que fará o trajeto São Luís-Rio de Janeiro, em 10 horas. A família reunida dá adeus. Ele senta na cadeira, afivela o cinto. O avião decola. José Ribamar Ferreira lembra tudo o que deixa para trás em São Luís do Maranhão.
Deixa a Rádio Timbira (...); deixa o Grêmio Líbero Recreativo Gonçalves Dias (...); deixa a escrivaninha do seu quarto, uma dezena de livros e outros pertences pessoais que precisou vender para comprar a passagem de avião para o Rio; deixa o Manifesto Literário Antiquentista, escrito por ele e lançado com pompa no famoso Hotel Central (...); deixa a Praia do Caju, onde pescava com os amigos Esmagado e Espírito da Garagem da Bosta; deixa a Biblioteca Pública (...); deixa o susto e a dor de ter visto um operário assassinado pela polícia na repressão a um comício de Adhemar de Barros, na Praça João Lisboa; deixa os galos que cantam no quintal da casa, a croa do rio Anil e as frutas maduras na quitanda do pai.
José Ribamar Ferreira não tinha, no entanto,  deixado tudo em São Luís do Maranhão. Traz consigo uma nova identidade, um nome artístico: Ferreira Gullar.
(George Moura, in Ferreira Gullar: entre o espanto e o poema)

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